quinta-feira, 18 de junho de 2009

Onde encontrar a felicidade.


Olá a todos.



Eu tive um leve bloqueio em relação ao blog ultimamente. Mas eu tinha uma boa idéia sobre o que poderia ser o meu próximo post. Idéia que já me tem visitado a muito tempo: falar sobre a felicidade.


_ Como assim?


A minha própria. Eu me considero, de verdade, uma pessoa muito satisfeita com a vida que leva. Eu sou alguém com uma ótima casa, família cuja presença me alegra, alguns ótimos amigos. Encontrei algo que eu realmente gosto de fazer e tive a oportunidade de fazê-lo assim que pude. Tive a mais que privilegiada sorte de nascer com a condição de pagar por uma terapia psicanalítica, que tem me levado a pensar sobre tudo o que eu faço, penso e fantasio faz mais de 4 anos.

E se tem algo que eu aprendi - depois desses 4 anos - é que você pode ser feliz e se sentir leve com a sua própria existência. Basta aceitar algumas coisas, tais como: somos todos falhos, não temos o controle de quase nada que nos ocorre, nunca teremos tudo o que desejamos, nada dura pra sempre, alguns problemas simplesmente não poder ser solucionados como queremos e as coisas nunca sairão como nós planejamos, com algumas raras e chatíssimas excessões. O último ítem, por sí só, deixa a vida inteira com um ar imprevisível que a torna amarga e doce, ao mesmo tempo. O belo não existe sem o feio, como a própria felicidade não pode existir sem a tristeza.

O que muda, radicalmente, o rumo desse post. Se a felicidade não pode existir sem a tristeza, então este é, essencialmente, um texto sobre a tristeza. Sim, é verdade. O caso é: se alguém realmente aceita os termos acima, ele pode viver em uma condição - muito recomendável - de auto-absolvição. Nesse estado, uma pessoa consegue se aceitar apesar de suas feiúras, seus defeitos, seus pecados. Não que ela não procure melhorar, não me entenda mal, mas o peso da culpa e da decepção por não sermos exatamente o que gostaríamos ser - um ideal sempre estratosférico - deixa de pesar tanto. Se é possível ser feliz, pelo menos que eu possa imaginar no momento, o caminho a ser seguido é: auto-aceitação e amor próprio.

Batido, brega, piegas. Chame como quiser. Mas me parece muito verdadeiro. O que também me parece verdadeiro é que tal caminho oferece alguns efeitos colaterais NO MÍNIMO engraçados. Ser alguém que não tem problemas consigo é ser alguém que não quer criar problemas com os outros.

E adivinhem? Isso é extremamente incômodo ao resto do mundo. Veja você: o mundo é dos que se importam com a vida alheia, dos que têm um problema com o outro, dos que sabem jogar, dos que dão o primeiro tiro, dos que fazem calúnia temendo ser caluniados. Eu poderia me extender dizendo que: o mundo pertence aos que julgam temendo o julgamento, aos que caçoam temendo que seus defeitos lhes sejam expostos, aos que atacam por serem covardes.

Se você estiver em paz consigo mesmo, saiba que essa paz parecerá qualquer coisa aos olhos dos que têm problemas, menos o que ela realmente é. Eles dirão que você é falso, convencido, estranho, suspeito, egoísta, imoral, perigoso e/ou louco. Eles precisarão atacá-lo, perturbar a sua paz e colocar você em dúvidas se devia continuar a corresponder ao seu tão incômodo amor próprio. Afinal, como a doutrina cristã - pra não dizer no próprio exemplo do nosso excelentíssimo Senhor Jesus Cristo - nos ensina, não parece correto buscar felicidade na vida terrena, já que seguramente existe uma pós-vida repleta de promissoras alegrias. Mas prometida apenas aos sofredores. Portanto - e só deus sabe ao certo - talvez eu devesse agradecer a qualquer um que me tirasse o bom humor. A cada sorriso de alegria arrancado por um mal julgamento, uma fofoca infundada, uma injustiça e uma falta de respeito, subimos mais um degrau na escada que leva ao céu. Se o mundo pertence aos sofredores e aos problemáticos, que empreitada desvairada é essa de realmente ser feliz?

Mas persiste um paradoxo. Se existem a tristeza e o sofrimento no mundo - e ambos podem ser tão profundos - então eles necessariamente reafirmam que também existem - no mesmo mundo - a alegria e a felicidade em igual profundidade. Não é verdade que não é possível existir tristeza sem também haver felicidade? Tal como o amargo, que de tão amargo, só faz adoçar o que já é doce?

Isso faz do mundo, inesperadamente, um lugar em que uma grande alegria possa de fato ser alcançada. Eis aí a grande glória.


Esse acabou se tornando um post feliz, afinal.

domingo, 7 de junho de 2009

A relação com o silêncio


Olá a todos.



Eu tive uma grande revelação a menos de duas horas do atual momento em que escrevo. E aqui vai: não posso escrever sobre o que eu quero. Sobre o que eu REALMENTE gostaria. Algumas coisas me prendem, como a minha profissão e as minhas relações em geral. Vejam vocês o paradoxo: para escrever o que gostaria, eu precisaria de um pseudônimo. Dessa forma, não existiria mal algum. Tanto que, por consequência, ninguém se incomodaria em ler. Seria um estranho falando sobre outros estranhos. E isso não teria propósito algum. Seria como um divã de psicanalista que, por acaso, eu já tenho disponível a um preço extremamente salgado.

Uma saída seria escrever em metáforas. Outro beco sem saída: não me entenderiam ou, PIOR ainda, alguém poderia realmente entender. E aí sim a coisa ficaria feia.

Imaginem, por exemplo, se eu pudesse comentar tudo o que vejo, sinto e penso sobre o meu trabalho. Algumas coisas, as boas, eu posso dizer. Mas não terá a menor graça, já aviso. Por exemplo, meus colegas de trabalho, os outros professores. Nenhum deles me deixou uma impressão nem levemente ruim. Todos me parecem competentes no que fazem em sala de aula e, fora dela, todos são realmente inteligêntes, bons de conversa, simpáticos. Chato, não?

Agora, por exemplo, imaginem se eu comentasse sobre as fofocas das vidas dos alunos? Não aquelas fúteis, mas as realmente cabeludas? Isso sim interessaria, não é? Bom, não posso nem nunca tal assunto estará em pauta. Talvez uma metáfora sobre isso aqui e ali, mas nada além disso. E, acreditem, alunos são uma fonte incrível de muitas coisas: afeto, risadas, encheção de saco, carinho, frustração e até raiva.

Imaginem também se eu me pusesse a comentar sobre as últimas notícias chocantes sobre a minha família, por exemplo? Sobre barracos, desentendimentos, tragédias - enfim - tudo o que todos querem saber? Também inadequado e espero nem precisar me estender sobre as razões disso.
E o que essa imagem tem a ver com o post? Ah....bom, até onde eu saiba, caveiras não são de falar muito. Só aquele inimigo do He-Man.

Outro bom assunto: fofocas sobre meus círculos de amizades. Quem fez o que com quem, quando, como, onde. Ou algum post desaforado, com algumas leves insatisfações sobre alguns deles. Eu poderia escrever sobre isso? Mas é claro que não, imaginem a confusão. Em pouquíssimo tempo, eu num teria nem amigos mais pra comentar aqui, mesmo falando sobre poucos - o que assustaria o resto.

Essas e outras frustrações, reclamações, fococas, sentimentos e pensamentos em geral precisam ficar aos ouvidos apenas da minha analista. É uma pena. Eu adoraria dividí-las com o mundo. Mas não se pode dizer o que quer sem arcar com as consequências indesejadas, não é?

Portanto, aqui termina meu longuíssimo post sobre - nada mais, nada menos - o ato de não dizer nada.