domingo, 15 de agosto de 2010

[ Pausa ] A angústia

(Eu pretendo tentar escrever todos os domingos, pelo menos, se eu conseguir.)

Durante essa semana, como na maioria das semanas da minha vida, experimentei extremos emocionais. Senti esperança, desesperança, satisfação, insatisfação, animação e preguiça. E também ocilei entre calma e raiva, amor e indiferença.

Santo Agostinho define o conceito de "angústia" em suas Confissões. Segundo o autor, a angústia é causada pela distenção da alma pelo tempo. A alma que não se reencontra, não sabe de sí mesma e nunca está em paz. Ela não sabe o que é, apenas sabe que não é mais o que já foi, e também não sabe o que será.

A alma se destende pelo tempo e seria essa a angústia primordial de todos nós. Eu, por outro lado, fico me perguntando se não estaria fadada a uma angústia ainda maior uma alma presa a uma alegria sem fim, a uma satisfação infinita, a uma eterna euforia. Agostinho compara a angústia do tempo com uma hipotética felicidade atemporal que ele nunca viu, apenas imaginou.

Em outras palavras: se você acredita que essa vida é ruim, você deve estar comparando-a com outra melhor. Mas que outra? Qual outra vida existe, senão essa mesma? Essa que se distende pelo tempo, repleta de contradições? Que outro mundo há e que outra vida é essa que todos imaginam e ninguém nunca viu, mas que todos tanto aguardam?

Eu, se fosse a vida, não perderia meu tempo com quem se recusa a me aceitar como sou e me trocaria sem pensar duas vezes por algo que somente vive na imaginação.

domingo, 8 de agosto de 2010

[ Pausa ] O chá derramado

O copo de chá se derramou sobre o chão do meu quarto e sobre a minha cama.

Aceitar a finitude e a passagem do tempo não é fácil pra mim. Desde pequeno tenho muito medo de morrer. Aliás, o que me aterroriza é o momento anterior à morte. Aquela hora em que pensarei: "é agora. Daqui a pouco estarei morto". Eu frequentemente imagino essa cena. E me pergunto: onde estarei quando o momento chegar?; estarei jovem, na meia idade ou velho?; estarei calmo e tranquilo ou assustado? E também me pergunto se verei esse momento chegar. Quem sabe seja repentino e eu nem perceba o que me atingiu.

Mas tive uma epifania sobre isso a pouco tempo, e ela gerou o impulso de retomar esse blog. Estava voltando para o meu quarto com um copo de chá gelado na mão quando, de repente, ao colocá-lo sobre o criado, ele caiu, derramando-se na cama e no chão. Meu dia estava ótimo até aquele ponto porem, logo em suas horas finais, quando eu pensava em me deitar e tomar algo refrescante, o acaso me atingiu. O momento me fez refletir muito e me fez perceber que o ocorrido era uma bela metáfora para a vida. Na vida, o chá se derrama. No exato momento em que ele molha o chão e a cama, queremos voltar no tempo e desfazer o acidente. Mas isso não é possível. E, para piorar, ficamos sem o chá e ainda precisamos limpar rapidamente a bagunça, afim de evitar maiores danos. Se não for a maior frustração do mundo, poderia entrar na lista das 10 primeiras. Pelo menos das 100 primeiras.

E por que isso aconteceu? Destino? Acaso? karma?
Bom, ninguém sabe. Mas assim é a vida. Algo que ninguém entende e que nos lembra constantemente que não temos o controle do que nos acontece. Em algum momento, o chá vai derramar. E o que separa um adulto de uma criança não é a idade e sim esse momento. Quando se entende que o curso de uma ação tão simples quanto se deitar para tomar chá pode ser radicalmente redirecionada pelo acaso, entende-se também que não se pode voltar no tempo para apagar o que nos desagrada. Entende-se que acidentes inevitáveis e sem sentido acontecem. Entende-se que, como o chá, nossa vida também vai se acabar, de uma forma ou de outra. E aquele que olha para o chá derramado sem chorar, aceitando que não pode tomar outro rumo senão limpar a bagunça, entendeu que precisamos aceitar nosso caminho pelo tempo. E aceitou que nossa jornada tem um fim, mesmo que seja doloroso.

Assim é a vida. Num dia, bebemos o chá. No outro, o chá se derrama.
Devíamos chorar?
Ou devíamos rir?