domingo, 8 de agosto de 2010

[ Pausa ] O chá derramado

O copo de chá se derramou sobre o chão do meu quarto e sobre a minha cama.

Aceitar a finitude e a passagem do tempo não é fácil pra mim. Desde pequeno tenho muito medo de morrer. Aliás, o que me aterroriza é o momento anterior à morte. Aquela hora em que pensarei: "é agora. Daqui a pouco estarei morto". Eu frequentemente imagino essa cena. E me pergunto: onde estarei quando o momento chegar?; estarei jovem, na meia idade ou velho?; estarei calmo e tranquilo ou assustado? E também me pergunto se verei esse momento chegar. Quem sabe seja repentino e eu nem perceba o que me atingiu.

Mas tive uma epifania sobre isso a pouco tempo, e ela gerou o impulso de retomar esse blog. Estava voltando para o meu quarto com um copo de chá gelado na mão quando, de repente, ao colocá-lo sobre o criado, ele caiu, derramando-se na cama e no chão. Meu dia estava ótimo até aquele ponto porem, logo em suas horas finais, quando eu pensava em me deitar e tomar algo refrescante, o acaso me atingiu. O momento me fez refletir muito e me fez perceber que o ocorrido era uma bela metáfora para a vida. Na vida, o chá se derrama. No exato momento em que ele molha o chão e a cama, queremos voltar no tempo e desfazer o acidente. Mas isso não é possível. E, para piorar, ficamos sem o chá e ainda precisamos limpar rapidamente a bagunça, afim de evitar maiores danos. Se não for a maior frustração do mundo, poderia entrar na lista das 10 primeiras. Pelo menos das 100 primeiras.

E por que isso aconteceu? Destino? Acaso? karma?
Bom, ninguém sabe. Mas assim é a vida. Algo que ninguém entende e que nos lembra constantemente que não temos o controle do que nos acontece. Em algum momento, o chá vai derramar. E o que separa um adulto de uma criança não é a idade e sim esse momento. Quando se entende que o curso de uma ação tão simples quanto se deitar para tomar chá pode ser radicalmente redirecionada pelo acaso, entende-se também que não se pode voltar no tempo para apagar o que nos desagrada. Entende-se que acidentes inevitáveis e sem sentido acontecem. Entende-se que, como o chá, nossa vida também vai se acabar, de uma forma ou de outra. E aquele que olha para o chá derramado sem chorar, aceitando que não pode tomar outro rumo senão limpar a bagunça, entendeu que precisamos aceitar nosso caminho pelo tempo. E aceitou que nossa jornada tem um fim, mesmo que seja doloroso.

Assim é a vida. Num dia, bebemos o chá. No outro, o chá se derrama.
Devíamos chorar?
Ou devíamos rir?

Um comentário:

  1. Gostei, me fez pensar...
    mas aqui, o que acontece se eu jogar chá na sua cara? XD

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