domingo, 31 de maio de 2009

A relação com a Moral


Olá a todos.



Eu desejo fazer um post menos carregado de emoção do que o anterior. Escrever assim, carregado demais por um sentimento só, pode trazer más consequências.

- O que? Descobriram de quem você falava? Deu confusão?


Claro que não. A má consequência é a minha impressão de que eu poderia ter dado um final melhor ao post. Mas, ao mesmo tempo, saiu como saiu. Me expressei como deu na telha e não quero voltar atrás.

Me resta falar de outro tema que, no exato momento, é tema de análise e motivo de desconforto: a moral de cada um.

Eu, por exemplo, não sou nenhum santo: já faltei com a verdade, já enganei, já omiti, já prestei falso testemunho. Mas, acreditem ou não, meus atos seguem uma lógica, que vai de acordo com a minha moral: a de não causar sofrimentos desnecessários.



Eu tenho pra mim que aquilo que chamamos de "verdade" é uma ótima forma de causar uma dor rápida e duradoura a alguém. Principalmente se esse alguém, por acaso, gostar de quem somos, do que fazemos, da amizade que oferecemos.

Talvez as pessoas fiquem assustadas demais em imaginar que não sabem nem da metade do que se fala sobre elas por aí. Em pensar que não possuem controle nem ciência do que se pensa e se sente sobre elas. Você já notou o quanto fala sobre os outros, em uma turma de amigos? E o quanto, muitas vezes, o assunto se volta justamente para a pessoa que acaba de sair da mesa? E você pensa mesmo que não falam as mesmas coisas sobre você? Uma roupa mal escolhida, uma frase mal interpretada, um gesto de má educação, uns quilinhos a mais. Enfim, fofoca. Você precisa mesmo saber de tudo que falam sobre você? Melhor não. Por que você, afinal, nunca vai saber. E realmente não precisa. As pessoas que dizem o que dizem não deixarão de gostar de você pelos quilinhos a mais, pela roupa mal escolhida ou por qualquer outro motivo - não sendo o motivo algo realmente grave. Portanto, saber disso causaria sofrimento, incômodo e, por outro lado, não traria bem algum, excluíndo-se a chance de ser algo passível de mudança.

O ponto é: não precisamos ser sinceros 100% do tempo com ninguém, muito menos precisamos que o sejam conosco. Isso não atrapalha a convivência entre as pessoas e, aliás, a facilita.


A moral da qual falo, portanto, não será essa pequena moral dos igualmente pequenos egos que apenas querem saber do que se fala por aí sobre eles. O meu objeto é a mentira da sua forma mais violênta: a mentira entre amigos. A hipocrisia que ganha território não levada através da simples lábia ou do desejo de salvar ouvidos sensíveis de pequenas e incômodas verdades, mas aquela que segue através da confiança sincera que lhe é entregue. Falo do tipo de moral que, de fato, não se importa com o outro. Falo de alguém que mente e conta versões diferentes do que se passa cada amigo, pra simplesmente evitar que seus erros sejam descobertos.(1) Falo de amigos que invejam outros amigos, que secretamente lhe desejam mal, expõem seus defeitos a desconhecidos, pra se sentirem melhor.(2) Defeitos que os deixamos ver, por serem nossos amigos, por querermos lhes dar nossa confiança.

Falo do pior tipo de pessoa: da pessoa verdadeiramente imoral. Daquela que não segue, nem ao menos, uma moral interna e coerente com qualquer princício senão o do interesse próprio e a vontade infantil de se sentir sempre bem, a qualquer custo. Falo do amigo que julga mal seus amigos e confidentes. Falo daquele que espalha a discórdia.(3) Daquele que, enfim, não é amigo. Mas a quem entregamos de bom coração, em algum momento, a nossa sincera confiança. A quem fizemos o maior elogio sincero que uma pessoa pode fazer a outra: chamar de amigo.


Mas que, infelizmente, é hipócrita até consigo mesmo, a ponto de acreditar piamente que o é.


Uma dica: eu, nesse texto impróprio, me referi a 3 amigos diferentes. Se você, que me acompanhou até aqui, acha que sabe quem algum deles seja, provavelmente você acertou.

Se você leu e por acaso sentiu que eu falava de você, mas ficou na dúvida, pode ter certeza: era mesmo de você.

Outra dica: agora ficou na dúvida, né?

quinta-feira, 28 de maio de 2009

A relação narcísica


Olá a todos!


O post de hoje, extremamente impróprio do ponto de vista ético, terá alguns personagens importantes que serão, de imediato, apresentados:


- Maria, um codenome para uma amiga com quem tenho ótimas conversas, quando não estamos brigando.

- Sr. sem limites 1 - jovem sem limites, muito inconveniente e ex aluno.

- Sr. sem limites 2 - outro jovem sem limites, muito agressivo e também ex aluno.

- Paulo, codenome para um rapaz muito tímido e quieto mas que nunca, que eu tenha visto ou tenha qualquer notícia, tenha feito mal a ninguém. Dizem as más línguas que ele é bacana até com as moscas.

- Eu, que não vou fazer o papél ridículo de me apresentar de novo.

- Sigmund Freud - conhecido por muitos como "pai da psicanálise", criador da teoria do narcisismo pela qual orientarei todo o presente post.


Outro dia, eu estava a conversar com Maria quando ela me disse algo que ficou na minha cabeça. De acordo com seu relato Maria, aparentemente, só consegue - ou pelo menos encontra enorme facilidade para - fazer amizades com pessoas excluídas. Talvez eu, na minha prepotência habitual, tenha esquecido de notar que, portanto, estou INCLUÍDO na classificação de EXCLUÍDO, visto que somos amigos. Esqueça isso, não é o nosso ponto.

Maria contou que nota pessoas que obviamente terão problemas em se ajustar e em serem aceitas socialmente e se sente irrevogavelmente afeiçoada a elas. "Essa é das minhas" - pensa Maria, ao ver uma criatura potencialmente excluída. Ela se aproxima e....dito e feito. Uma nova e bela amizade surge.

Não pude deixar de entender Maria. Eu mesmo, nos tempos de escola, sentia simpatia pelos infelizes dos excluídos. Não que eu construísse profunda amizade, andasse com eles no recreio ou os visse nos finais de semana. Não chegava a tanto. Mas meu sangue fervia quando, por exemplo, um playboy mimado queria se exibir pros outros mauricinhos por meio da ridicularização de alguém visivelmente indefeso. Mais de uma vez, na minha vida escolar, eu já estive a ponto de entrar em brigas com mauricinhos por causa disso ou, pior, acabei entrando. Minha sorte é que os mauricinhos, orgulhosos, nunca contam pra diretora quando apanham. Meu azar é que, como todo garoto mimado e sem limites que se preze, eles são covardes por natureza e, portanto, convocavam suas gangues de "amigos" para tentar me dar o troco mais tarde. Eu tenho saudade da escola.

Eis que, a pouquíssimo tempo atrás, questão de horas, algo que me recordou os meus tempos de menino e a minha conversa com Maria aconteceu bem na minha frente. E aconteceu quando eu estava a conversar com Paulo, que além da apresentação acima, ainda merece mais elogios: é muito simpático comigo, sempre faz questão de se levantar e de me cumprimentar quando eu chego no mesmo ambiente em que ele está e, ainda, é um estudante muito esforçado. Eu admiro isso.

Pois bem, eu conversava com Paulo quando os Srs. Sem limites 1 & 2 apareceram, atrapalharam nossa conversa, querendo roubar a atenção e, pro meu horror, o sr. sem limites 2 ainda espirrou limão bem nos olhos de Paulo. Paulo, acreditem ou não, estava justamente estendendo a mão para cumprimentar Sr Sem limites 2 quando teve que levá-la a seu olho direito, que ardia bastante, para tentar cobrí-lo.

Em questão de milésimos, meu sangue ferveu. Ferveu como não fervia desde os tempos de colégio. Ferveu como não fervia até os segundos antes de uma briga muito feia começar, pra toda escola ver. Pela primeira vez, em 3 anos, eu senti o impulso legítimo de dar uma bela surra em alguém que já tenha me chamado de "Professor".

Explico minha reação, tanto recente como de outrora, quanto a tentar defender vítimas de mauricinhos: trata-se de uma relação de identificação imediata, tal qual Maria descreveu. Essa relação pode, também, ser denominada de "relação narcísica". Como sempre, "Freud explica". De modo simples, pode-se aplicar esse conceito a relações em que nasça um sentimento de familiaridade e reconhecimento de uma pessoa para outra. Isso acontece pois um dos lados se vê espelhado no segundo, o que gera forte empatia.

Caso eu não tenha sido suficientemente claro, o que eu quis dizer foi que sinto afeição por Paulo - e a escolha desse nome não foi por acaso, espero que isso tenha sido bem fácil de sacar - pelo simples motivo de ver a minha própria imagem projetada sobre ele. Paulo se sente mal recebido, solitário, caçoado sem motivo e muito retraído. Quem nunca se sentiu assim? Eu, antes de ter mínimas condições de revidar era, também, vítima de playboys as vezes com uma diferença absurda de idade, algo na casa de 4 anos. Culpa, talvez, do meu inconveniente crescimento descontrolado, que me fazia parecer anos à frente, mas que não me dava qualquer semblante intimidador. Era por esse motivo que eu, quando mais novo, assim que tive chance, passei a caçar mauricinhos que, como sempre, procuravam suas vítimas nos anos inferiores aos deles. Talvez, seja por esse motivo que Maria também se afeiçoe aos excluídos. E, talvez, seja Paulo o próximo a defender outros que passam pelo que ele passou, em um futuro ideal.

Arrependimentos?

Nenhum. Talvez de não ter socado tantos Maurícios quanto eu deveria, nos tempos de escola. Talvez dos momentos, que nunca deixam de voltar a nossa vida, em que fraquejamos e vemos a coragem se esvaindo pelas mãos.

Mais algum?

E de não ter feito dois Srs Sem limites chorarem de vergonha, quando tive a chance. De ter dado uma bronca que, olhando agora, foi mínima pelo que eles mereciam. De não ter pedido desculpas ao Paulo por tal fato ter acontecido mesmo na minha presença já que eu, pelo menos em TESE, deveria ser uma figura de autoridade. E de não ter reagido com mais veemência quando os Srs Sem limites ficaram, ao contrário de envergonhados, mas INDIGNADOS por ouvirem uma repreensão pelo que fizeram.


Eu, inocentemente, prefiro viver de futuro, por hoje. Prefiro imaginar que os maurícios do meu passado, que fugiram da minha alçada, tenham tomado suas merecidas lições. Também prefiro imaginar que esses caros senhores aprenderão, com o tempo, a descobrir seus limites. E, ainda, gostaria de imaginar que Paulo, ainda um dia, virará a mesa do jogo, e levantará a voz contra projetos de maurício que tentam sacanear alguém em sua frente.

É longa e ingrata essa estrada de esperanças, caminho dos inocentes.

Mas - por hoje - é por ela que caminho, até o alvorecer.

sábado, 23 de maio de 2009

A relação (de amor ou ódio) com o tempo.


Olá a todos!




Esse é o primeiro de vários contos/ crônicas que eu vou postar aqui, nesse espaço impróprio pra menores, maiores, letrados e, PRINCIPALMENTE, analfabetos. Tratam-se de meras ironias e metáforas sobre as pessoas, os ocorridos, os "devia ter ocorrido" e os "jamais devia ter acontecido" que fazem parte - imagino - não só da minha, mas da vida de todos nós. Qualquer semelhança com a vida real pode ser mera coincidência, como pode não ser. O que você pensou ter lido aqui, lembre-se, é única e exclusivamente produto da sua imaginação paranóica e maluca. Nunca culpa minha. Eu jamais escreveria - logo sobre você - aqui.

Esse não é espaço exclusivo de quem me conhece. Acho que as conclusões que tiramos sobre as personagens da nossa história servem a quaisquer pessoas, seja pra que elas se sintam espelhadas pela narrativa ou pra que percebam o quanto esse texto impróprio é distante da sua própria experiência vivida.

Hoje escrevo sobre quarto pessoas e suas respectivas relações com o tempo. Se essas pessoas existem ou não, não digo. Não digo que sejam apenas homens, como também não digo se elas estão ligadas umas as outras de alguma forma. Daí, óbvio, você já entendeu a lógica: elas existem e, pior, se conhecem e não são apenas homens, tem meninas na jogada. Não que eles sejam exatamente como vou escrever, mas me baseio em cada um deles pra escrever o que se segue.

As quatro pessoas são: o inocente; o escravo; o maluco e o hipócrita.



  1. O inocente sempre faz planos pro futuro. Diz que vai entrar na academia, que vai fazer uma viagem, que vai se tornar uma pessoa melhor. Tudo isso ainda vai acontecer, no futuro. O inocente tem uma imaginação fértil. Ele faz planos, confabula consigo mesmo, sonha acordado. Ele não raramente se pega fantasiando encontrar uma lâmpada mágica, da qual sairia um gênio, perguntaria quais seriam seus três desejos, e ele então lhe responderia: "Quero ser bonito, rico e feliz!". O inocente vive do futuro. Ele se alimenta, ao longo do tempo, de suas esperanças e sonhos - sem nunca tentar realizá-los. E, por isso, ele fica no mesmo lugar. Esse mesmo tempo, que passa sem parar, sempre se lembra de perguntar pelo inocente. A resposta é a mesma: "tá lá, naquele lugar de sempre".


  2. O escravo, como o nome sugere, é escravo do tempo. Ele está acorrentado ao passado. Não existe futuro para o escravo. Sua imaginação vive visitando o que já passou e acabou presa a isso. Ao invés de pensar no que vai fazer no futuro, o escravo sabe que seus problemas o seguirão, não importa onde ele vá. Aliás, o escravo já conhece seu futuro. Seu mundo todo é uma repetição de algo que já aconteceu antes. Quando uma nova mágoa surge, ele simplesmente diz: "Ah eh. Já me aconteceu antes. Foi igual daquela outra vez". É fácil identificar quando alguém adota a postura de escravo. Você já ouviu alguém próximo - talvez até você - dizendo: "Ah, pois é. Eles/ elas são todos(as) iguais". Cuidado! Isso é coisa de escravo. O escravo já não espera mais pelo príncipe encantado, como o faz o inocente. Ele já sofreu demais uma vez e já entendeu que todas as suas relações serão iguais. E se não forem, ele as fará ser, pra mostrar que tem razão.


  3. O maluco, por sua vez, ignora seu passado. Pra ele, são histórias divertidas sobre uma vida passada a serem contadas em um bar. E fora dele, já que ele as vive contando sóbrio. Pro maluco, tudo não passa de uma piada. Ele gosta de ver o circo pegar fogo, pra que tudo vire uma história divertida a ser contada logo depois. O maluco também não consegue mais fazer planos pro futuro. Ele está preso ao presente, apenas esperando a próxima anedota. Sem fazer planos, ele não consegue se prender a nada que possa ter futuro. Ao fazer piada de si mesmo e do que se passou, ele se esquece de quem ele é. Enfim, acaba perdendo a razão. Ele não faz planos, diz que o que passou passou e assim vai vivendo, como um maluco, sem esperanças. Se você disser o que eu escrevi pra ele, é claro, o maluco vai ficar negar, como todo bom louco nega sua loucura. Mas, é como dizem por ai: "melhor não contrariar".


  4. O hipócrita, deixado por último, se sente superior aos outros três. Ele já sofreu, claro. Já traíram sua confiança, óbvio. Mas ele seguiu em frente e descobriu que sua vida está segura, em perfeitas condições. Ele faz, inclusive, piada sobre seu passado. Ele aprendeu a planejar e a concretizar. Ele parece seguir junto ao tempo. Não fica nem atrás, nem na frente. Mas, como o nome sugere, o hipócrita não passa de um cretino. Um cretino que acredita nas próprias mentiras. Ele aprendeu a fingir que não está preso ao passado e a sonhar tão baixo que, assim, fica fácil concretizar. Na verdade, o hipócrita é o escravo que busca a liberdade pela mentira. Ele teme a verdadeira mudança e sempre fez de tudo para regular sua vida como fazemos a um relógio. Mas ele descobre, tarde demais, que agora está preso ao próprio "tic & tac", e anseia liberdade de sua criação. O hipócrita, na verdade, não esqueceu. Isso faz dele um escravo. Ele também faz planos que nunca vai concretizar, como um inocente. Mas, mais do que todos, ele acredita nas próprias mentiras. Isso faz dele um grande maluco, dentre todos os malucos.

Com qual você mais se identifica?


Tomara que nenhum dos quatro venha me perguntar: "Ow....aquilo lá é sobre mim?"


Eu confesso, pra quem acertar.