
Olá a todos!
O post de hoje, extremamente impróprio do ponto de vista ético, terá alguns personagens importantes que serão, de imediato, apresentados:
- Maria, um codenome para uma amiga com quem tenho ótimas conversas, quando não estamos brigando.
- Sr. sem limites 1 - jovem sem limites, muito inconveniente e ex aluno.
- Sr. sem limites 2 - outro jovem sem limites, muito agressivo e também ex aluno.
- Paulo, codenome para um rapaz muito tímido e quieto mas que nunca, que eu tenha visto ou tenha qualquer notícia, tenha feito mal a ninguém. Dizem as más línguas que ele é bacana até com as moscas.
- Eu, que não vou fazer o papél ridículo de me apresentar de novo.
- Sigmund Freud - conhecido por muitos como "pai da psicanálise", criador da teoria do narcisismo pela qual orientarei todo o presente post.
Outro dia, eu estava a conversar com Maria quando ela me disse algo que ficou na minha cabeça. De acordo com seu relato Maria, aparentemente, só consegue - ou pelo menos encontra enorme facilidade para - fazer amizades com pessoas excluídas. Talvez eu, na minha prepotência habitual, tenha esquecido de notar que, portanto, estou INCLUÍDO na classificação de EXCLUÍDO, visto que somos amigos. Esqueça isso, não é o nosso ponto.
Maria contou que nota pessoas que obviamente terão problemas em se ajustar e em serem aceitas socialmente e se sente irrevogavelmente afeiçoada a elas. "Essa é das minhas" - pensa Maria, ao ver uma criatura potencialmente excluída. Ela se aproxima e....dito e feito. Uma nova e bela amizade surge.
Não pude deixar de entender Maria. Eu mesmo, nos tempos de escola, sentia simpatia pelos infelizes dos excluídos. Não que eu construísse profunda amizade, andasse com eles no recreio ou os visse nos finais de semana. Não chegava a tanto. Mas meu sangue fervia quando, por exemplo, um playboy mimado queria se exibir pros outros mauricinhos por meio da ridicularização de alguém visivelmente indefeso. Mais de uma vez, na minha vida escolar, eu já estive a ponto de entrar em brigas com mauricinhos por causa disso ou, pior, acabei entrando. Minha sorte é que os mauricinhos, orgulhosos, nunca contam pra diretora quando apanham. Meu azar é que, como todo garoto mimado e sem limites que se preze, eles são covardes por natureza e, portanto, convocavam suas gangues de "amigos" para tentar me dar o troco mais tarde. Eu tenho saudade da escola.
Eis que, a pouquíssimo tempo atrás, questão de horas, algo que me recordou os meus tempos de menino e a minha conversa com Maria aconteceu bem na minha frente. E aconteceu quando eu estava a conversar com Paulo, que além da apresentação acima, ainda merece mais elogios: é muito simpático comigo, sempre faz questão de se levantar e de me cumprimentar quando eu chego no mesmo ambiente em que ele está e, ainda, é um estudante muito esforçado. Eu admiro isso.
Pois bem, eu conversava com Paulo quando os Srs. Sem limites 1 & 2 apareceram, atrapalharam nossa conversa, querendo roubar a atenção e, pro meu horror, o sr. sem limites 2 ainda espirrou limão bem nos olhos de Paulo. Paulo, acreditem ou não, estava justamente estendendo a mão para cumprimentar Sr Sem limites 2 quando teve que levá-la a seu olho direito, que ardia bastante, para tentar cobrí-lo.
Em questão de milésimos, meu sangue ferveu. Ferveu como não fervia desde os tempos de colégio. Ferveu como não fervia até os segundos antes de uma briga muito feia começar, pra toda escola ver. Pela primeira vez, em 3 anos, eu senti o impulso legítimo de dar uma bela surra em alguém que já tenha me chamado de "Professor".
Explico minha reação, tanto recente como de outrora, quanto a tentar defender vítimas de mauricinhos: trata-se de uma relação de identificação imediata, tal qual Maria descreveu. Essa relação pode, também, ser denominada de "relação narcísica". Como sempre, "Freud explica". De modo simples, pode-se aplicar esse conceito a relações em que nasça um sentimento de familiaridade e reconhecimento de uma pessoa para outra. Isso acontece pois um dos lados se vê espelhado no segundo, o que gera forte empatia.
Caso eu não tenha sido suficientemente claro, o que eu quis dizer foi que sinto afeição por Paulo - e a escolha desse nome não foi por acaso, espero que isso tenha sido bem fácil de sacar - pelo simples motivo de ver a minha própria imagem projetada sobre ele. Paulo se sente mal recebido, solitário, caçoado sem motivo e muito retraído. Quem nunca se sentiu assim? Eu, antes de ter mínimas condições de revidar era, também, vítima de playboys as vezes com uma diferença absurda de idade, algo na casa de 4 anos. Culpa, talvez, do meu inconveniente crescimento descontrolado, que me fazia parecer anos à frente, mas que não me dava qualquer semblante intimidador. Era por esse motivo que eu, quando mais novo, assim que tive chance, passei a caçar mauricinhos que, como sempre, procuravam suas vítimas nos anos inferiores aos deles. Talvez, seja por esse motivo que Maria também se afeiçoe aos excluídos. E, talvez, seja Paulo o próximo a defender outros que passam pelo que ele passou, em um futuro ideal.
Arrependimentos?
Nenhum. Talvez de não ter socado tantos Maurícios quanto eu deveria, nos tempos de escola. Talvez dos momentos, que nunca deixam de voltar a nossa vida, em que fraquejamos e vemos a coragem se esvaindo pelas mãos.
Mais algum?
E de não ter feito dois Srs Sem limites chorarem de vergonha, quando tive a chance. De ter dado uma bronca que, olhando agora, foi mínima pelo que eles mereciam. De não ter pedido desculpas ao Paulo por tal fato ter acontecido mesmo na minha presença já que eu, pelo menos em TESE, deveria ser uma figura de autoridade. E de não ter reagido com mais veemência quando os Srs Sem limites ficaram, ao contrário de envergonhados, mas INDIGNADOS por ouvirem uma repreensão pelo que fizeram.
Eu, inocentemente, prefiro viver de futuro, por hoje. Prefiro imaginar que os maurícios do meu passado, que fugiram da minha alçada, tenham tomado suas merecidas lições. Também prefiro imaginar que esses caros senhores aprenderão, com o tempo, a descobrir seus limites. E, ainda, gostaria de imaginar que Paulo, ainda um dia, virará a mesa do jogo, e levantará a voz contra projetos de maurício que tentam sacanear alguém em sua frente.
É longa e ingrata essa estrada de esperanças, caminho dos inocentes.
Mas - por hoje - é por ela que caminho, até o alvorecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário